Por que Tormenta 20 é um jogo incrível?

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Eu não costumo escrever sobre sistemas ou cenários aqui. Gosto de trazer discussões sobre a comunidade e o mundo do RPG em geral, mas T20 é um jogo que me faz querer escrever um artigo só sobre ele. 

Seu antecessor não era tudo isso; Tormenta RPG, a versão anterior do jogo, de 2010, podia até ser divertido, e com certeza deu passos necessários para chegarmos onde estamos hoje, mas era pouco mais que uma adaptação de D&D 3.5 e trazia muitos dos mesmos problemas do seu sistema-base: desbalanceado, fácil de quebrar e desnecessariamente complexo em vários aspectos. Ainda assim, tinha regras que me fizeram preferir TRPG à jogar D&D 3.5 puro, como o uso de pontos de magia para os conjuradores e as regras simples e completas para criação de itens mágicos.

O tempo passou, eu continuei jogando TRPG e também testando outros sistemas, até que em 2019 a Jambô anunciou o financiamento coletivo de Tormenta 20. Eu não sou o tipo de pessoa que paga primeiro pra ver o resultado depois, então só fiquei no aguardo do lançamento. “Vamos ver o que vem por aí.”

Eu comecei a ver muita gente falando bem do sistema, incluindo pessoas do meio do RPG que eu admiro bastante, e bem próximo ao lançamento vi algumas resenhas sobre o material parcial que já havia sido liberado para apoiadores. Foi então que eu percebi que eles tinham acertado em cheio. O financiamento coletivo tinha acabado e a pré-venda também, então simplesmente esperei o dia do lançamento e comprei assim que o site liberou a venda. Quando eu comecei a leitura tive certeza: era uma obra-prima do game design.

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A Regra de Ouro do RPG: Para o Bem e Para o Mal

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Todo jogador de RPG já ouviu falar da Regra de Ouro; às vezes chamada de “Regra do Bom Senso”, às vezes de “A Mão Peluda do Mestre”, para o bem ou para o mal, cedo ou tarde você vai ter de quebrar alguma regra do sistema.

Pode parecer contra-intuitivo: por que eu preciso de um livro de 400 páginas se eu vou quebrar as regras? Mas a resposta é simples: porque as regras não cobrem tudo.

O guerreiro que sobe nas costas do vorme antes de cortar sua cabeça; a feiticeira que transforma a derradeira bola de fogo em uma cabeça de dragão em chamas; o arqueiro que dispara uma saraivada de flechas de uma vez só com o arco; talvez não existam regras específicas para isso no seu jogo, ou talvez essas regras estejam lá, mas vão tomar tempo do seu grupo e tirar o foco do que interessa de verdade. Então apenas permita, afinal, todo mundo criou os personagens e reservou aquele dia de jogo para se divertir.

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RPG Não É (Só) Sobre Você.

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RPG é um jogo colaborativo. No fim das contas, este texto inteiro pode se resumir a essa frase, mas vamos tentar destrinchar um pouco esse conceito e deixar as coisas mais claras por aqui.

O RPG começa quando você reúne um grupo de pessoas pra jogar; vocês podem ser bons amigos, ou talvez nem se conheçam direito, mas criar laços é inevitável quando você vive uma boa história ao lado dos seus companheiros de mesa. Nessa primeira parte do jogo a gente já começa a entender de forma razoavelmente clara o que cada um dos jogadores quer ali; todos querem se divertir. O narrador provavelmente quer construir uma história interessante baseada em uma ideia promissora, o jogador que faz o bardo talvez queira desenvolver o roleplay e se tornar uma lenda no cenário da campanha, o guerreiro, por outro lado, pode ser aquele jogador que quer forçar o sistema até que ele quebre no meio, empilhando um combo em cima do outro, e talvez você seja o jogador que só quer passar duas tardes por mês na companhia dos seus amigos, dando risada das situações que aparecem no jogo e vivendo uma história emocionante. Mas se cada um quer uma coisa, como é que a gente ajeita tudo pra que todo mundo fique satisfeito?

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Progressão de Personagens no RPG: Um Guia Geral Sobre Como Distribuir XP

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Salve salve, aventureiros! Hoje eu venho tratar de um assunto que muitas vezes é dor de cabeça para mestres de RPG: distribuição de XP e progressão de personagens. Qual a quantidade ideal de XP por sessão? Como Distribuir? Quando conceder XP extra? Quais as vantagens e desvantagens de uma progressão mais lenta ou mais rápida? Vamos resolver essas e várias outras questões hoje! Vem comigo!

O que é experiência?

Antes de tudo, vamos definir o que significa XP: pontos de experiência são parte integrante de quase todo sistema de RPG, responsáveis por marcar a progressão mecânica dos personagens, fazendo com que se tornem mais fortes ou mais versáteis conforme a narrativa se desenrola. Em alguns sistemas, os pontos de experiência são usados para “encher uma barra”, que fará o personagem subir de nível, enquanto em outros jogos de progressão mais livre, o XP pode ser usado diretamente para a compra de Habilidades, Atributos, Magias e Equipamentos. Certo, e daí?

Ganhar XP significa progredir, mas é importante notarmos que essa é só uma das formas possíveis de se progredir com um personagem de RPG; além da sua progressão mecânica intrínseca, há ainda a progressão da sua personalidade, dos seus contatos in game, dos seus equipamentos e da sinergia do seu grupo. Distribuir XP não é tarefa fácil porque todos esses fatores precisam ser considerados: um grupo que ganha menos XP precisa ser balanceado com um prêmio maior em itens, ganchos narrativos favoráveis ou talvez alguma habilidade ou magia única.

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RPG & LGBT: Naturalidade e Representatividade

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Desde que nossa espécie surgiu sobre a face da Terra, pessoas LGBT existem; há registros da nossa existência em cerâmicas, pinturas e esculturas que chegam a datar de 12.000 a.C.. Nós ajudamos a erguer as pirâmides do Egito, estivemos nas linhas de frente romanas, participamos da colonização de todo o planeta e até fomos queimados em fogueiras na idade média; negar a existência das diferentes orientações sexuais ao longo de toda a história da humanidade ao redor do mundo inteiro é, no mínimo, de uma vasta ignorância.

Não houveram povos, etnias ou culturas sem a presença de indivíduos LGBT, simplesmente porque as diversas orientações sexuais fazem parte da natureza humana; mas por que nossa presença não é devidamente assinalada nas obras de ficção e, indo mais além, nas mesas de RPG?

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Subvertendo os Papéis de Gênero no RPG

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Salve salve, aventureiros! Começo o post de hoje com uma pergunta rápida: quantos homens e quantas mulheres que jogam RPG você conhece? Eu sei qual é a proporção da sua resposta.

O RPG nasceu em 1974, 45 anos atrás. De lá pra cá muita coisa mudou no mundo: nós tivemos a popularização da internet, o surgimento e fortalecimento de várias causas sociais, três passagens de geração e grandes mudanças nas nossas formas de interagir com as ciências sociais, a economia, a política e o mundo ao nosso redor como um todo. Neste período, no Brasil, tivemos a primeira mulher senadora, a primeira governadora, a primeira presidente da república e a primeira a ocupar o cargo de presidente na Academia Brasileira de Letras. Nos EUA, Sally Ride foi a primeira mulher americana a ir para o espaço. Com tanto espaço conquistado, por que ainda é difícil que sentem à mesa para rolar dados com nós, homens?

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Desafio de Interpretação: Jogando com dois personagens ao mesmo tempo.

Salve salve, aventureiros! Hoje eu trago um desafio pra quem quer aprimorar suas habilidades como jogador e, de quebra, ganhar um XP para se tornar um futuro narrador.

Essa é uma técnica que eu já uso há algum tempo para ajudar jogadores que querem um exercício de aprimoramento de narrativa: colocá-los pra jogar controlando dois personagens ao mesmo tempo; um exercício intensivo, complexo e engrandecedor.

Inicialmente, é necessário tomar alguns cuidados: não faça este exercício com jogadores novatos ou em mesas muito grandes; este exercício é ideal para mesas de 2 a 4 jogadores veteranos. Se você tiver apenas um jogador veterano em uma mesa com vários novatos, também pode sugerir que apenas este jogue com dois personagens, desde que isso não incomode ninguém na sua mesa.

Começando a Campanha

Primeiro deixe bem claro pra todo mundo: isso vai ser pelo menos duas vezes mais difícil que jogar com um personagem só. Os jogadores terão de criar dois backgrounds, montar duas fichas, desenvolver e controlar duas personalidades e ainda gerenciar as questões de equipamentos, dinheiro e extra-jogo dos dois personagens, tudo ao mesmo tempo!

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Três mecânicas adicionais para qualquer sistema de RPG

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Salve salve, aventureiros! Hoje eu venho trazer pra vocês uma série de mecânicas adicionais que podem ser utilizadas em qualquer sistema de RPG para proporcionar uma experiência diferenciada. Sem mais enrolação, vamos a elas:

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Construindo Narrativas: Utilizando Semi-Protagonistas

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Salve salve, aventureiros! No post de hoje vamos falar sobre um artifício narrativo extremamente útil, versátil, e que pode facilitar a construção da sua história, além de torná-la mais rica e interessante.

Como eu já comentei aqui no blog anteriormente, “O Narrador é a única pessoa na mesa que não é um protagonista“, mas isso pode, eventualmente, trazer alguns obstáculos que podem acabar prejudicando o desenvolvimento da sua narrativa. Às vezes o grupo se encontra em situações onde é difícil perceber o que precisam fazer, ou então até sabem o que precisam fazer, mas podem não ter as ferramentas necessárias para resolver o problema. Na maioria das vezes, você pode apenas mudar a construção da cena durante o planejamento para adequar ao grupo, mas às vezes você não quer abrir mão de uma ideia, por ela ser um elemento interessante que vai enriquecer sua história; então você pode dar um empurrãozinho no grupo.

Um Semi-Protagonista é um NPC, mas que segue regras um pouco diferentes dos outros NPCs que você costuma construir para suas campanhas; ele é tratado como PJ na maior parte do tempo. O ideal é que você construa-o da mesma forma que os jogadores construíram seus personagens, seguindo os parâmetros de nível/pontuação iniciais da sua campanha, obedecendo os mesmos limites, e tendo um background/objetivo alinhado com o resto do grupo.

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Por que você precisa jogar outros RPGs?

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Salve salve, aventureiros! Sentiram minha falta? :D

Hoje eu venho (mais uma vez) com o intuito de te tirar da caixinha, te fazer respirar novos ares, parar de enxergar o mundo com o mesmo óculos cor-de-rosa; enfim, experimentar algo novo.

Eu não trouxe um sistema pra te dizer “toma, joga isso, você vai gostar”, até por que eu não sei o que você joga, o que você gosta, e o que você deveria jogar em seguida. Mas eu sei de uma coisa: você precisa jogar algo diferente.

Eu não falo em apenas largar seu sistema preferido e jogar outro parecido; falo de se aventurar de verdade, largar a espada e pegar numa arma de plasma, ou largar o livrão e os mais de oito mil suplementos que você usa sempre e pegar um joguinho de vinte páginas brochura, saca?

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